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Para o meu filho Xavier... (Parte 2)

Ora então,

Continuando a saga ''pagamos impostos para termos direito e acesso aos serviços nacionais de saúde'' (malta, sei que estão a pensar... ''miúda o mesmo se poderia aplicar à educação'', e infelizmente sim, mas essa é outra história, e esta é a minha realidade.).


E posto isto...


A desgraçada da hérnia virou-me a p*ta da vida do avesso.

Quero dizer, mesmo, literalmente.

Sou uma pós mamã que estava a reencontrar-se a si mesma e, sobretudo, a reafirmar-se a nível profissional e juro-vos que cheguei a pensar ''porra, isto é bom demais para ser verdade!''


E era mesmo.....


A minha volta ao trabalho no Photo Frame (para quem não sabe ou não conhece é o meu projecto de fotografia), coincidiu com o começo destas malditas dores.

Metia benuron para o bucho, esfregava a perna e a zona lombar com biofreeze (aquela cena fixola que metem nos jogadores da bola), e rezava para que não me doesse ao ponto de ter de cancelar o trabalho.


Realizei duas sessões.

Duas.

Com dores.

Muitas.


E sabem que mais?

Uma delas foi dos meus melhores trabalhos de sempre!

São um casal querido que sigo desde que encomendaram o pequeno V.; vi-os casar e a batizá-lo e esta sessão foi especial porque eternizava o primeiro ano de casados deles.


Quando tive de cancelar a minha primeira sessão estava longe de imaginar que tinha de fazer mil exames, análises, muito menos imaginaria que me iria ver numa lista de espera de hospital à espera de ir à faca.


Na altura pensei ''caramba! estava tudo a correr tão bem!''

Pedi mil desculpas à família.

Era uma sessão de recém nascido que queria tanto tanto fazer que na noite que cancelei a sessão me fartei de chorar. Mas ainda assim remarcamos na semana seguinte.


Entretanto fiz uma boa massagem, coloquei o esqueleto no sítio e sentia-me muito melhor. Na manhã anterior a data da remarcação deu-me uma dor tão grande na perna que gritei tão alto que julgo que o Viso inteiro me ouviu!

Escusado será dizer que tive de voltar a cancelar.


Depois veio o diagnóstico.

A médica de família disse-me ''Ana, tem de ser vista por um neurocirurgião'' e eu na minha ideia ''what?? neuro quê? eu não quero ser operada!''...

E, basicamente, desde este dia, até ao dia em que fui à consulta com o dito cujo neurocirurgião, só me apeteceu chorar e chorei, muito.

Tive ataques de pânico que a minha querida mãe e o meu querido namorido tiveram de aturar, coitados, sou uma pessimista por natureza, mas com dores de senhora de 80 anos a coisa fica negra... Cheguei a pedir-lhes (sob o efeito do tramadol ok?), que me tirassem a perna.


Isto pode parecer ridículo, mas acreditem que não é assim tão fácil como parece.

Estava acamada há semanas, no meu quarto, a fazer as minhas refeições deitada e a contorcer-me de dores, sem melhoras.


Imaginam a minha carola?

Cheguei a pensar que pirava de vez.

A dor.

Quando temos uma dor que é constante, que não passa por nada, essa dor penetra-nos o cérebro e deixamos de ser racionais.


A minha mãe perguntava-me ''Ana, queres ir ao hospital?'' e eu ainda chorava mais. A ideia da espera eterna e da possibilidade de me irem espetar um cateter na mão numa sala cheia de velhotes jogados à sorte as dores ainda se intensificavam mais.


Fui lá 3 vezes, como vos já contei no post anterior.

E de nada me valeu.


Tudo isto para vos dizer que esta maldita me virou a vida do avesso.

Para vos dizer que chorei.

Desesperei...

Achei que não seria capaz de aguentar.

Achei que não era forte o suficiente.

Mas era.

Mas sou.


E isto ainda nem vai a meio...

Estou em lista de espera...

Serei operada...

E depois disso virá um tempo de recuperação.


Mas.....

Sabem aquela sessão de que vos falava no ínicio do post, lembram-se?

Essa sessão não me saí da cabeça.

E diz-me ao ouvido ''miúda, ainda tens muita coisa por escrever por aqui''

E eu respondo ''pois tenho.''


E tenho, não tenho?

Não acham que tenho?


Dizem que a provação nos mostra a fibra de que somos feitos.

E mostra.

Basta que acreditemos que somos capazes.

Basta que na nossa cabeça esteja presente a ideia de que nada do que nos caí no colo é só porque sim. Basta que pensemos que existem pessoas com diagnósticos muito piores, que ultrapassaram provações fora deste mundo e, estão cá, de pedra e cal.

Basta que nos lembremos que quem tem sorte neste mundo são aqueles que têm quem lhes dê a mão, um braço ou uma perna, se assim for preciso.


E eu tenho quem me dê a mão, um braço, uma perna, um rim, um fígado, um coração...

O que for preciso.

E por isso, tenho sorte.

Há quem não a tenha.


Só não tenho culpa que o nosso Sistema Nacional de Saúde não funcione como deveria. Só não tenho culpa de descontar desde os meus 17 anos e de nada isso me valer.

Só não tenho culpa que tenha de esperar meses por uma operação que demora 1 hora a ser feita.

Só não tenho culpa que não existam anestesistas suficientes nos nossos hospitais.


Não tenho culpa.

E só me resta esperar.


Vou dando notícias, sim?

Porque a minha história ainda mal começou...



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