Ora então,
Continuando a saga ''pagamos impostos para termos direito e acesso aos serviços nacionais de saúde'' (malta, sei que estão a pensar... ''miúda o mesmo se poderia aplicar à educação'', e infelizmente sim, mas essa é outra história, e esta é a minha realidade.).
E posto isto...
A desgraçada da hérnia virou-me a p*ta da vida do avesso.
Quero dizer, mesmo, literalmente.
Sou uma pós mamã que estava a reencontrar-se a si mesma e, sobretudo, a reafirmar-se a nível profissional e juro-vos que cheguei a pensar ''porra, isto é bom demais para ser verdade!''
E era mesmo.....
A minha volta ao trabalho no Photo Frame (para quem não sabe ou não conhece é o meu projecto de fotografia), coincidiu com o começo destas malditas dores.
Metia benuron para o bucho, esfregava a perna e a zona lombar com biofreeze (aquela cena fixola que metem nos jogadores da bola), e rezava para que não me doesse ao ponto de ter de cancelar o trabalho.
Realizei duas sessões.
Duas.
Com dores.
Muitas.
E sabem que mais?
Uma delas foi dos meus melhores trabalhos de sempre!
São um casal querido que sigo desde que encomendaram o pequeno V.; vi-os casar e a batizá-lo e esta sessão foi especial porque eternizava o primeiro ano de casados deles.
Quando tive de cancelar a minha primeira sessão estava longe de imaginar que tinha de fazer mil exames, análises, muito menos imaginaria que me iria ver numa lista de espera de hospital à espera de ir à faca.
Na altura pensei ''caramba! estava tudo a correr tão bem!''
Pedi mil desculpas à família.
Era uma sessão de recém nascido que queria tanto tanto fazer que na noite que cancelei a sessão me fartei de chorar. Mas ainda assim remarcamos na semana seguinte.
Entretanto fiz uma boa massagem, coloquei o esqueleto no sítio e sentia-me muito melhor. Na manhã anterior a data da remarcação deu-me uma dor tão grande na perna que gritei tão alto que julgo que o Viso inteiro me ouviu!
Escusado será dizer que tive de voltar a cancelar.
Depois veio o diagnóstico.
A médica de família disse-me ''Ana, tem de ser vista por um neurocirurgião'' e eu na minha ideia ''what?? neuro quê? eu não quero ser operada!''...
E, basicamente, desde este dia, até ao dia em que fui à consulta com o dito cujo neurocirurgião, só me apeteceu chorar e chorei, muito.
Tive ataques de pânico que a minha querida mãe e o meu querido namorido tiveram de aturar, coitados, sou uma pessimista por natureza, mas com dores de senhora de 80 anos a coisa fica negra... Cheguei a pedir-lhes (sob o efeito do tramadol ok?), que me tirassem a perna.
Isto pode parecer ridículo, mas acreditem que não é assim tão fácil como parece.
Estava acamada há semanas, no meu quarto, a fazer as minhas refeições deitada e a contorcer-me de dores, sem melhoras.
Imaginam a minha carola?
Cheguei a pensar que pirava de vez.
A dor.
Quando temos uma dor que é constante, que não passa por nada, essa dor penetra-nos o cérebro e deixamos de ser racionais.
A minha mãe perguntava-me ''Ana, queres ir ao hospital?'' e eu ainda chorava mais. A ideia da espera eterna e da possibilidade de me irem espetar um cateter na mão numa sala cheia de velhotes jogados à sorte as dores ainda se intensificavam mais.
Fui lá 3 vezes, como vos já contei no post anterior.
E de nada me valeu.
Tudo isto para vos dizer que esta maldita me virou a vida do avesso.
Para vos dizer que chorei.
Desesperei...
Achei que não seria capaz de aguentar.
Achei que não era forte o suficiente.
Mas era.
Mas sou.
E isto ainda nem vai a meio...
Estou em lista de espera...
Serei operada...
E depois disso virá um tempo de recuperação.
Mas.....
Sabem aquela sessão de que vos falava no ínicio do post, lembram-se?
Essa sessão não me saí da cabeça.
E diz-me ao ouvido ''miúda, ainda tens muita coisa por escrever por aqui''
E eu respondo ''pois tenho.''
E tenho, não tenho?
Não acham que tenho?
Dizem que a provação nos mostra a fibra de que somos feitos.
E mostra.
Basta que acreditemos que somos capazes.
Basta que na nossa cabeça esteja presente a ideia de que nada do que nos caí no colo é só porque sim. Basta que pensemos que existem pessoas com diagnósticos muito piores, que ultrapassaram provações fora deste mundo e, estão cá, de pedra e cal.
Basta que nos lembremos que quem tem sorte neste mundo são aqueles que têm quem lhes dê a mão, um braço ou uma perna, se assim for preciso.
E eu tenho quem me dê a mão, um braço, uma perna, um rim, um fígado, um coração...
O que for preciso.
E por isso, tenho sorte.
Há quem não a tenha.
Só não tenho culpa que o nosso Sistema Nacional de Saúde não funcione como deveria. Só não tenho culpa de descontar desde os meus 17 anos e de nada isso me valer.
Só não tenho culpa que tenha de esperar meses por uma operação que demora 1 hora a ser feita.
Só não tenho culpa que não existam anestesistas suficientes nos nossos hospitais.
Não tenho culpa.
E só me resta esperar.
Vou dando notícias, sim?
Porque a minha história ainda mal começou...